
Um dia acordei e tinha a vida do avesso
Mas entendi mais tarde que cada produto tem seu preço
Comecei a sentir , a viver de outra maneiraMas entendi mais tarde que cada produto tem seu preço
E esquecer que o destino me pregou uma rasteira
Estudei cada sinal , cada palavra , cada gesto
Escutei cada frase sem atentar ao resto
Senti com maior gosto e firmeza as minhas lágrimas em prol de sentir também o quão triste é não ver
Querer e não poder , ter de aceitar o meu ser
Aumentei os meus limites sem poder olhar para eles
Mas é difícil alcançá-los com barreiras das quais tento passar por cima sem saber a sua altura
Com grande medo de tropeçar e ver apenas escuridão ao pedir ajuda
Escuridão como a cor do carvão , como se estivesse a dormir
Mas em que cada passo que dê é um passo a reflectir
Ouço com maior atenção os pássaros que cantam ou o latido dos cães ao fundo da rua
Sinto com maior precisão a madeira , o metal
O som instrumental , a diferença entre água e espuma
O meu tacto melhorou , agora sei dizer determinadamente o que é o quente e o frio
Mas por vezes não é o tacto que me diz que há algo no vazio
Ontem via , hoje adormeci , sei que vou continuar a dormir e deixar-me-ei levar
Porque mesmo sem os olhos eu continuo a viver , a crescer , a amar
E cada vez que me apontam o dedo ao dizer : olha um cego a andar sozinho !
Ignoro e continuo o meu caminho
Eu tenho pernas , eu consigo andar
Sou um ser humano na mesma , não tenho olhos mas não é isso que me vai fazer parar !