segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Ciclologia


Um clima vulnerável toca-te no corpo num domingo primaveril, as andorinhas vagueiam como policias para encontrarem comida para as suas crias, um campo totalmente vazio e verdejante onde o sol iluminava os pinheiros que deixavam caír as pinhas sobre a sua sombra, uma brisa suave e serena como a água do rio que por ali passava, e uma vista lindíssima para as montanhas. O pôr do sol que se ia escondendo debaixo do mar calmo por onde navegavam as chamadas "bananas" - umas canoas amarelas - e os patinhos com a sua penugem branca que voavam por cima da cabeça e que emigravam para se abrigarem do frio do Inverno.
O cheiro matinal quando acordas e um cheirinho a panquecas logo de manhã já feitas, sabe-se lá por quem, em cima do balcão. As gotas de orvalho em cima das folhas do maravilhoso carvalho situado a 10m da tua casa. Aii paisagem maravilhosa daqui do meu alpendre, bem que posso pintar esta linda vista.

A casa arrefece, as velas apagam-se, o chá de erva doce que estava no microondas a aquecer ficou com um sabor estranho. A cama gigantesca com a nossa almofada em cima, aquela almofada que me deste de presente com uma fotografia nossa, e os lençóis que mantêm o teu cheiro. A loiça ainda pinga, a música toca, o vento bate na janela e ouve-se o seu assobio.
Assim de repente o sol aparece, e surge-me o nosso primeiro encontro na cabeça.

Discussões, discussões, discussões !
Sou de loiça sim? Também fico despedaçada com as palavras que dizes. Não me declaro como uma derrotada mas sim como uma VENCEDORA ! Porque EU sou livre, eu sei o melhor, eu tomo decisões, eu , eu , EU! E tu? Tu és quem eu amo, e deixo passar exactamente por isso.
Porque sei que se não te tiver não vale a pena viver.
É isto exactamente o que acontece : está tudo bem, tudo calmo, tudo maravilhoso. Depois discutimos e as coisas começam a arrefecer até que me espetas um beijo e volta tudo ao normal, tudo bem, tudo feliz!
Será? Volta tudo ao normal, mas deixa sempre marca como uma cicatriz.

Mas um dia ...
... ela há-de sarar.

domingo, 29 de novembro de 2009

Uma miúda sem sardas

antes de reproduzir, pausar a musica situada no final do blog


Lá estava eu, num cenário super romântico como um filme. Eu, debaixo da chuva, encharcada, com frio, a tremer à tua espera. Por fora a boca encontrava-se fechada mas por dentro chamava pelo teu nome. Por fora parecia uma pessoa normal mas por dentro era completamente louca, e ansiava pelo teu toque, pelo teu olhar, pelos teus beijos. Entranhou-se em mim o medo, o receio de te afastares, mas eu sabia que não te queria perder mesmo sabendo que não te tinha. Consumia-me a vontade de querer tocar nos teus lábios, contraía-se o meu peito quando imaginava que vinhas... mas não vieste.
Esperei por ti, até que me liga o teu melhor amigo a dizer que já estavas em casa. De facto não tiveste culpa porque nunca te cheguei a dizer, mas nesse dia nem um telefonema teu recebi. Cheia de frio dirijo-me à paragem, triste e com o nariz a pingar. O meu casaco preto tornou-se negro, o coração alimentou-se dos factos, o meu cabelo e as minhas calças estavam bastante molhadas, e não posso negar que os meus pés e mãos se encontravam congelados. Já no autocarro ouvia ironias e determinações do teu melhor amigo, dizendo-me que tinha de te esquecer e para partir para outra. Será que concordei ou limitei-me a aceitar?
Não. Eu não queria esquecer, não queria que a maré levasse tudo o que me pertencia, tudo o que NÓS passámos. O gelo do meu corpo, o vento, as gotas da chuva que caíam na minha cara, nem os factos me faziam aceitar que tinha de te deixar ir.
Obsessão? Não. Apaixonada? Talvez. Mas porque acreditava em ti, porque me davas esperanças de mão beijada dizendo que gostavas de mim, ajudando-me a pensar que um "nós" não era impossível. Quando afirmaste que me amavas, quando sonhaste comigo em que estava no altar de vestido branco e a dizer "sim". Quem estava lá comigo ? Eras tu! Até quando por estupidez minha te fui sincera a 100% e te disse que só queria que dissesses que me amavas se fosse realmente verdade e o que sentisses. "Amo-te" disseste tu num posterior momento de silêncio. O coração chegou aos 200 bpm's de pulsação e aí perdi a fala. Não queria estragar o momento e, sinceramente, foi bastante significativo para mim.
(...)
"Ele arranjou namorada" disseste-me tu mandando uma mensagem do telemóvel do teu melhor amigo, fazendo-me pensar que tinha sido ele a enviar e não tu. Por vingança sim, porque anteriormente tinha-te dito o mesmo mas disse-te que estava a gozar. De facto a tua vingança até me fez chorar, porque sabia que tinhas arranjado namorada dois dias depois de dizeres que me amavas e um dia depois de dizeres que tinha sido uma brincadeira. Precisava de ajuda porque sabia que não conseguia lidar com aquilo sozinha, porque sabia que ia andar a chorar pelos cantos se não soubesse da verdade. Não podes dizer que não lutei por ti porque é o que tenho andado a fazer ao longo dos dias e voltava a fazê-lo se soubesse que valeria a pena, se soubesse que vinhas. Eu podia gritar à janela que te amava, podia escrever-te poemas lamechas, podia aguardar por ti de manhã na porta do teu prédio, podia tomar conta de ti sempre que estivesses doente, podia TUDO. Posso estar a ser melodramática mas eu conheço as minhas capacidades e era capaz de lutar por ti mas não era capaz de o fazer sabendo que me davas expectativas e no momento seguinte acabavas com tudo. Brincar aos namorados não é para mim. Amar é amar, não é gostar nem pouco menos.

Exagero ? Não, eu gostava de ti.
E 2007 já lá vai.

domingo, 15 de novembro de 2009

Orgulho, Saudade, Distância.


Pai, se estiveres a ler isto peço por favor que compreendas.
Antes eras a pessoa em quem mais confiava, a pessoa que eu sabia que podia contar tudo o que se passava na minha vida, a pessoa a quem pedia conselhos sobre namorados e amigos. Antes eras tu e eu, que entrávamos dentro do carro e punhamos a cidade FM a tocar e tu vinhas sempre com aquele comentário "tu ouves isto? é sempre a mesma coisa" e eu punha-me a rir. Antes éramos nós os viajantes, éramos nós que preparávamos o jantar e que nos púnhamos a jogar Playstation na sala. O SSX era o nosso preferido, e tu jogavas com aquele musculado com cabeça de caveira e eu com aquela loiraça tão bonita, lembras-te disso? Lembras-te quando me ensinaste a comer com garfo e faca? Quando me ensinaste a fazer a cama sempre que me levantava? Quando íamos ao cinema juntos? Quando me levavas às cavalitas quando ia para casa da avó?
Lembras-te quando me pegavas ao colo por ter adormecido no sofá, me pousares na cama e me dares um beijo na cabeça? Lembras-te disso pai?
Eu lembro-me. E tenho saudades...
Até porque agora que vejo, esses momentos já não existem. E parece que não te dei o devido valor enquanto isso acontecia e agora que não os tenho sinto a falta deles, sinto a tua falta. Desde que a Francisca nasceu que eu te perdi quase por completo. Já não havia cinema porque ela não podia ir, já não havia Playstation porque tínhamos de tomar conta dela, já não havia cidade FM a bombar no carro por causa do barulho, já não nada pai, nada. Foi um impacto tão grande, afastaste-te tão rapidamente que me magoou. Não pai, não são ciúmes, é só que... sinto mesmo a falta do que éramos há anos atrás. Em que almoçava contigo no restaurante chinês por saberes que era o meu preferido, em que ficava tão contente por brincares comigo e irmos só os dois passear os cães. A Matilde e o Bingo pai, na nossa casinha na Malveira. Nós iamos os dois apanhar amoras e de seguida comê-las até ficar com as mãos sujas lembras-te? E até, quando íamos para o baloiço ao pé da nossa casa. E o Tosco? O nossa gato laranjinha, que até tirámos fotos!
Onde estão esses dias? Onde está o jovem quarentão que passava dias com ele?
Eu sei onde está. Está a trabalhar, está a tirar um mestrado, está a tomar conta da francisca, está a fazer o jantar, está a jogar à bola com os amigos, está a tomar conta da Leonor. E a Sara? Onde está?
A Sara está com a mãe, porque o pai anda ocupado. E quando não está vem buscá-la para ir a festas de aniversário, para tomar conta das pequeninas, para ficar em casa no computador por não ter mais nada para fazer.
O pai liga à Sara, e já lá vão umas quantas vezes que pergunta como vai a escola sem perguntar sequer se ela está bem. E pede informações sobre a escola de dança que a Sara põe em questão, porque se não puser o pai também não põe.
Como achas que me faz sentir? TODOS os dias falas sobre a escola, todos. Agora a primeira coisa que me perguntas quando entro dentro do carro é se trouxe os livros da escola, e o assunto tratado enquanto vou para casa é a escola e o meu futuro. Será que para ti sou apenas um livro escolar?
Tenho saudades de tudo pai, e já não tenho isso há 5 anos. Obviamente não te peço para me dares mais atenção a mim do que às pequeninas, mas não posso pedir um pouco mais de preocupação por mim? Não posso pedir um pouco mais de atenção que pelo menos acho que mereço? Não posso pedir momentos de pai & filha?
Sim pai, estou a crescer, terei alguma culpa? Sendo adolescente não precisarei do meu pai? Sendo já crescidinha não posso ser a menina do papá?
Eu choro por isto sabes? E choro por saber que falas de mim quando não estou, todos os dias, mas que depois não mostras que tenho valor para ti. Eu sei que gostas de mim, estás a fazer o teu papel de pai, só queria voltar atrás. Porque eu já tinha de aceitar o facto de que eras um pai ausente e agora que sei que me podes vir buscar mais vezes continuas distante, cada vez mais distante.
Quero-te de volta, só isso.

domingo, 8 de novembro de 2009

Amar depois de amar-te


O que sou adoro ser, o que fui não quero ser, o que senti queria sentir mas acho que depois de tudo o que passei não sou capaz. Claro, toda a gente pensa que o passado é aquele período de tempo que se vive e é esquecido. O meu passado foi mais do que isso, foi e ainda é um pedaço de mim. Verdade, esse pedaço já não está tão intacto como deveria estar mas, apesar de tudo, vivi a minha vida como se não houvesse amanhã. E de uma coisa não me arrependo: amei uma pessoa com todas as minhas forças e alma que para mim, isso não bastou.
No fundo, não bastou mesmo. O resultado de todo o amor que entreguei foi uma mera desilusão tão profunda como o oceano, que me fez sentir como te estivesse a desfalecer, a perder as forças, a cair aos bocados, a morrer. Interrogo-me por vezes, por que razão ainda hoje o meu coração chora, apesar de ser muito pouco, se já passaram dois anos desde então ?
Entreguei-me de corpo e alma, cuspi na mão dos que me davam de comer, mordi a boca a quem mandava críticas e, enquanto se mostravam superiores e sabedores do conhecimento dizendo que, na verdade, o nosso amor nunca iria durar para sempre e que tu só querias abusar de mim, acabei por dizer caga já, não vai resultar.
Dizia-lhes isso mesmo. Porquê? - perguntas-te a ti mesmo, leitor deste romance com final trágico.

Porque eu acreditava em "nós", porque eu sentia dentro do meu peito que íamos ser o clone da felicidade, e acreditava sinceramente que tinhamos sido feitos um para o outro !
Porque o amor que te entregava de mão beijada era das coisas mais poderosas e sinceras que te poderia alguma vez entregar.
Porque eu sentia cada vez mais o meu peito distendido e coeso de tanto bater por ti, cada vez mais me cegava por nós, cada vez mais sentia que eras o homem da minha vida.
Porque apesar da diferença de 4 anos de idade (13-17), eu era aquela miúda que te amava bastante e mais ninguém te amava tanto como eu.

Depois de tudo isto, morri. Mas morri mesmo por dentro, nada de ironias. Acabaste comigo com uma desculpa qualquer, para quê? Para não me magoares? Para fugires ao assunto tratado?
Andaste com uma amiga minha, com que intenção? Para me veres a chorar?
E... enquanto escrevo isto tudo, sinto-me cada vez mais magoada ao relembrar, e questiono-me:
- saberias tu o significado de amar?
É que eu sabia, agora já não sei se sei. Eu sabia SIM! Amar-te foi o que mais me soube bem ao longo destes anos todos!
Saberias tu o quanto te amava ao ponto de dar a minha vida só para não te perder?
Saber através do objecto mais influenciável do mundo (computador) que me tinhas traído ao engravidar aquela que já, anteriormente, nos tinha tentado separar?
Achas que não custou? Arrepiaste-te ao menos, quando soubeste que me tinha cortado na anca ao ponto de deixar uma cicatriz como marca dos melhores momentos da minha vida? Perguntaste-te o que fiz depois destes meses todos?
É estúpido, é verdadeiro, é triste. E neste momento estou a chorar, porque recordo-me do quão eramos felizes um ao lado do outro, recordo-me de tudo o que já passámos. E é neste momento que afirmo: TU AMAVAS-ME!
Eu sei que sim ! Será o meu papel apenas ter medo do bicho-papão, acreditando quando me dizias que tudo ia correr bem, ou terei também uma opinião a dar? A maneira como olhavas para mim, como me sorrias, como me beijavas, como me agarravas na mão, como me sentias, como me abraçavas, como TUDO!
Tudo Daniel... tudo.

Afastei-me do mundo todo por ti, só por ti. Amar-te? Era tão pouco ...
Agora continuo a lamber as lágrimas que me escorrem pela face como gotas de chuva no vidro de uma janela.

Conseguirei esquecer tudo e pensar mais no futuro?
Conseguirei eu amar depois de amar-te?

Não sei... até lá limito-me a ir vivendo.