
No fundo tudo muda. Como poderei eu, ser humano que sou, ter tantos defeitos quanto as qualidades?
Olho-me ao espelho e só vejo pó, nada de interessante, apenas o meu reflexo, o da mulher, o reflexo do Homem. No entanto não gosto dos meus olhos, estes que representam a visão do Homem perante uma situação, só sabem ver o que não interessa, não olham mais além, só vêem o que querem ver; não gosto dos meus pés, eles que representam o caminho que cada um toma, o caminho dos fracos que é o mais fácil, onde só encontro tabaco, drogas, álcool, amargura; não gosto da minha boca, ela que se arma em presidente e que faz o que todos não deveriam fazer: falar muito, fazer pouco; e odeio as minhas mãos, elas que deveriam apontar para os seres que se auto-destroem, mas só lhes dá prazer esmagar, agredir, estragar.
Tento olhar para dentro, o que poderá haver em mim que pode ser valorizado? O olfacto que me ajuda a sentir aromas naturais que nenhuma poção ou experiência conseguiria igualar, a mente que me ajuda a pensar com raciocínio, com lógica, com inteligência, que me ajuda a estudar as palavras, e claro o coração, aquela grande máquina que é a coisa mais importante em todos nós. Com ele as mãos passam a dar de comer aos pobres e acariciar os animais ao invés de os matar, os olhos vêem o sofrimento dos outros em vez de serem fúteis e gananciosos e apenas olharem para o dinheiro, a boca passa a dizer coisas com sentido, chama de amor às pessoas que ama, chama de amigo às pessoas afáveis, conselheiras e presentes, passa a tomar gosto do seu interior, e claro os pés que passam a seguir o caminho da felicidade. Esse caminho pode ter pedras sim, até podes tropeçar nalgumas delas, de outras tentas desviar-te, com muito suor lá chegarás, porque nunca temos aquilo que queremos sem esforço.
Por isso a Filosofia não se limita apenas a diaporamas, conclusões que nos fazem reflectir acerca das nossas atitudes, matéria escolar, limita-se a ensinar-nos a ver as coisas de outra maneira, a dizer as coisas noutro sentido, a fazer as coisas de outra forma e tomarmos o nosso rumo com outros olhos, outras mãos, outros sentidos, e sempre com outro coração.
No fundo... tudo muda.
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