sexta-feira, 4 de março de 2011

A formiga


Sou uma pessoa escura no meio de gente colorida. Pensei para mim mesma esta mentalidade que me mantém angustiada, estas atitudes que não são correctas, que cérebros serão estes que esfriam o coração? Vejo tudo ao contrário da realidade, pensei e no fundo estava errada, o mundo é injusto por si só.
Vi uma formiga a andar em cima da mesa onde me apoiava, e poi impulso humano, e não conscientemente, bati com o meu dedo no seu pequeno corpo. Não percebi, reagi numa atitude de desculpas pois tinha feito algo que não queria fazer, só por puro impulso o fiz! Fixava-a e via-a a tentar recompor-se, tinha apenas uma das suas patas partidas. Senti-me culpada, era culpada, os seres humanos matam sem dó e fazem-no em posição de ataque e não de defesa. Finalmente, como esperava, apareceu uma formiga que, provavelmente, estaria a procurar comida tal como a outra, pois é essa a sua função, é esse o seu instinto. Não percebi, ou não quis perceber. Como forma de arrependimento, com a minha caneta tapei as saídas à formiga para a conduzir até à sua parceira da colónia, que se encontrava magoada, mas sem estar à espera, essa formiga passou pela outra e não fez rigorosamente nada! Não, passou a milímetros de distância, viu-a mas nem se aproximou. Instinto de sobrevivência? Talvez, estava a ser atacada por uma caneta de feltro, viu um "soldado" em estado lesionado e defensivo, e o que fez foi fugir. Não a julgo, comparo-a connosco.
Talvez até nem seja verdade, os amigos servem para ajudar, mas o mundo que vejo hoje em dia não passa de um pensamento inútil: "um por todos e todos por um? Não, cada um por si e salve-se quem puder". Antes era tudo tão mais fácil, tudo tão bem explicado. No infantário ensinaram-nos a partilhar, a sermos amigos uns dos outros e a pedir desculpa quando agimos mal, mas as pessoas insistem em roubar o que não é nosso, a partilharmos somente aquilo que não nos interessa, a apunhalar as pessoas nas costas, e o pedido de desculpas é um fingimento de que está tudo bem... quando não está. Azar o meu e o de muitos, julgados sem serem "lidos", alguns até enganados.
Hoje é a "geração do iceberg", a geração em que as pessoas não valorizam as coisas mais importantes, os pais que estão sempre lá, os verdadeiros amigos que te dão uma mão quando precisas, a geração em que as pessoas apenas mostram uma pequena parte do que são, a parte que parece melhor, mas que dentro de si existe algo que precisam de deitar cá para fora, e simplesmente não o fazem porque têm medo de serem julgados pelo que gostam de fazer, pelo que pensam, pela orientação sexual, pela relação com a família, por muitas coisas que a população não está habituada a ver.

Os velhos tempos foram-se, mas são velhos por um dia terem sido usados como os novos tempos deveriam ser.

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