domingo, 30 de janeiro de 2011

pseudo-fobia

Nunca gostei muito de falar dos meus problemas, antes talvez, agora fecho a minha boca e coso-a, passando uma simples agulha e linha pelos meus lábios, bastante semelhante a um espantalho ou a uns atacadores. Faço-o bastantes vezes, e já não dói, pois a minha boca habituou-se a sentir o frio de uma agulha e a textura de uma linha a passar-me pelos buraquinhos que lá deixei. Tal como todas as feridas, esta também deixa marca, mas porquê fechar minha boca quando há tanto para dizer?
Houve um dia que disseste que adoravas o meu sorriso, e adoras os meus lábios por mais fininhos e pequenos que eles sejam.

Sempre adorei os meus olhos, a sua cor, o seu formato (...), mas por sua vez nunca gostei de os ter abertos, porque para onde olho só vejo imagens que não posso vivê-las, vejo defeitos mas amor (sincero?), vejo mapas... e choro. Por isso, passado uns dias tapei meus olhos com adesivo, para que nunca mais voltasse a ver. Claro que ao dormir, fossem que horas fossem, o adesivo parecia descolar-se, então ceguei-me. Doeu um pouco, foi precisa muita coragem sentir cimento mergulharem nos teus olhos. "No fundo", pensava para mim, "é como se estivesse a dormir todos os dias".
Houve um dia que disseste que gostavas dos meus olhos "cor de mel".

Passava dias a ouvir-te, e para além disso, ouvia também outras pessoas. Conselhos, palavras amorosas, um "gosto de ti", um "olá"... mas ouvia boatos, insultos, agressões verbais, quando físicas ouvia gritos, choro, etc. Não cortei as minhas orelhas, e pouco sabia o que fazer, por muito que custasse, limitava-me a tapar os ouvidos com as minhas mãos sempre que não me agradava as coisas que ouvia. Não resultava, só pelo simples facto de não conseguir falar para alguém me ajudar, e de não conseguir ver e necessitar das mãos para me guiar. Com o tempo fiquei surda. Não ouvia ninguém, não via ninguém, não falava com ninguém. Por incrível que pareça, eu era assim antes de me auto-mutilar.
Houve um dia que me disseste que me amavas, e soou tão bem no meu ouvido que me caíram lágrimas dos olhos e nos beijámos ao som de uma música romântica... quando ainda via, quando ainda falava, quando ainda ouvia.

Voltei ao meu mundo. Estava na aula de Inglês concentrada no meu pensamento. Consigo ver, não te vejo aqui e choro, consigo falar, não falo contigo e choro, consigo ouvir... mas já não te ouço a dizer que sou a mulher da tua vida e que me amas... e choro, e grito (...)
Se já não tens vontade de me beijar para quê descoser os meus lábios, se já não me queres ver para quê abrir os olhos, se já não me queres ligar para quê esperar por um "amo-te" ?

Coser a boca, cegar-me, deixar-me surda... já pensaste que se calhar me fazes sentir assim ?

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